CACs e a coleção de mortes violentas no Brasil
À luz do dia, em um bairro nobre de São Paulo, um homem com registro de CAC (caçador, atirador esportivo e colecionador) iniciou um tiroteio que culminou na morte de três pessoas: dele mesmo, de uma policial civil e de um vigilante. E a arma do crime, uma .45, estava legalizada. A tragédia é mais uma para a lista de incidentes provocados por armas de fogo depois da flexibilização dos critérios para porte e posse dos itens. Para analisar o quadro atual do país, Natuza Nery conversa com Natália Pollachi, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz. Neste episódio: - Natália questiona a eficácia da fiscalização sobre as armas de fogo depois de quatro anos de liberou-geral, durante o governo Bolsonaro: “Já era precária antes de 2019, quando começou a flexibilização. E não acompanhou o crescimento”. E critica o sistema Sigma, utilizado pelo Exército para o registro das armas e que já foi descrito duas vezes pelo Tribunal de Contas da União (TCU) como “antigo e deficiente”; - Ela alerta para a fragilidade do processo de concessão de registro de armas de fogo: “Não pode ser apenas um check-list de documentos”. E relata casos nos quais CACs são suspeitos de fornecer armas legalizadas para o crime organizado. “Existe conexão entre os mercados legal e ilegal”, afirma; - Por fim, Natália elogia as atuais restrições à quantidade (até janeiro de 2023, CACs podiam ter até 60 itens; agora são 4) e ao poder letal das armas (caso dos fuzis, agora liberados apenas para atiradores experientes). “Vamos sentir os danos por muito tempo, mas voltamos a uma regra responsável”, conclui.