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400 mil mortos: o que esperar agora

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Foram quase cinco meses até 100 mil. Outros cinco até 200 mil. Com a metade do tempo chegamos a 300 mil. E em pouco mais de um mês atingimos a nova marca devastadora, superada apenas pelos Estados Unidos. Em 2020, a Covid-19 roubou quase dois anos da expectativa de vida dos brasileiros. E, segundo a demógrafa Márcia Castro, a aceleração dos óbitos em 2021 tende a produzir um tombo ainda maior nesse que é um dos principais termômetros sociais de qualquer país. Chefe do Departamento de Saúde Global e População da Universidade Harvard, Marcia liderou a pesquisa que constatou a queda. E dimensiona, neste episódio, a inflexão que ela representa: "De 1945 a 2020, a expectativa de vida ao nascer subiu, em média, cinco meses a cada ano no Brasil”. Renata Lo Prete conversa também com o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz. Ele explica por que o mix de vacinação lenta, restrições em baixa e inverno chegando deve nos empurrar para um saldo de 500 mil vítimas sem muita demora. “Saímos de uma segunda onda terrível, com março e abril tendo sido os dois piores meses da história do Brasil. Junho e julho podem superar”.

100 dias de Biden na Casa Branca

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O homem mais velho a assumir a Presidência dos Estados Unidos chega ao primeiro marco temporal de seu governo com um feito que ninguém questiona: a vacinação em massa dos americanos contra a Covid-19. Não por acaso, foi esse o primeiro item do discurso de Joe Biden nesta quarta no Congresso. “A América avança novamente”, disse ele. Como peça de resistência do pronunciamento, a apresentação de mais um pacote de investimento público pesado, desta vez com foco em educação e ajuda às famílias. Biden passou pelos principais temas do período inaugural de seu mandato: da reinserção americana em esforços globais, como o Acordo de Paris, à defesa da transição para uma economia verde; da violência policial ao controle de armas. Temas que estão na conversa de Renata Lo Prete com Claudia Antunes, editora de Internacional do jornal O Globo. Ela analisa cada um dos tópicos e ainda explica como as eleições de meio de mandato, no ano que vem, podem impactar as ambições de Biden. “Ele não atiça a polarização, mas ao mesmo tempo quer estabelecer uma marca que mantenha o voto que teve, tanto no eleitorado democrata quanto no independente. E mirando até alguns republicanos".

Sem dinheiro para habitação popular

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Entre as áreas atingidas pelo facão do governo Bolsonaro no Orçamento de 2021, poucas perderam tanto quanto o financiamento de moradia para as famílias de menor renda: 98% dos recursos foram cortados. José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, explica neste episódio que a paralisia será imediata e atingirá obras em andamento, ceifando, de saída, mais de 250 mil empregos. “O diálogo com as pessoas que lidam diretamente com o Orçamento é muito difícil. Nossa esperança é o Congresso”, diz. Participa também o urbanista Nabil Bonduki, professor da USP e ex-vereador paulistano. “O problema da habitação ganhou ainda mais importância na pandemia. Com diretrizes sanitárias como ficar em casa e lavar as mãos, fica evidente o problema para quem não tem casa ou vive em uma com água intermitente", afirma. “Um programa de habitação precisa responder a três questões que estão na agenda do país: o problema sanitário, a redução da desigualdade e geração de empregos.

Tsunami de Covid na Índia

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Um número diário de novos casos sem precedente em qualquer outro país, já tendo superado 350 mil. Variantes do vírus alimentando o contágio. Colapso dos hospitais, pacientes morrendo por falta de oxigênio, disparada de sepultamentos e cremações. E desconfiança generalizada de que a contagem de óbitos - na casa dos 200 mil - esteja seriamente subestimada. “Não dava para imaginar que ficaria tão grave. No dia a dia, a mensagem era de que o pior já havia passado”, conta o repórter da Globo Álvaro Pereira Jr., que esteve nas cidades de Nova Délhi e Pune no início de março, como parte das gravações para o documentário “A corrida das vacinas”. De fato, a situação saiu de controle em poucas semanas, disparando alerta global, porque o país é grande produtor do que o mundo inteiro quer. “Se o Brasil ainda esperava receber vacinas prontas da Índia, pode tirar o cavalo da chuva”, alerta o jornalista. Isso porque a prioridade do país, agora, será acelerar a imunização de sua população -inferior em tamanho apenas à da China. Também neste episódio, Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV, explica por que o país asiático está recebendo ajuda internacional em escala a que o Brasil nem de longe tem acesso: “Ela é aliada dos EUA para conter a China e peça-chave na distribuição global de vacinas”.

Enquanto a vacina não vem

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Em março de 2020, André Akito, 27, mudou-se para o Vietnã, onde dá aulas de inglês como voluntário. Surpreendido pela declaração de pandemia, teve a chance de voltar ao Brasil, mas decidiu ficar. “Hoje sou grato por ter vivido esse período num país que atua de forma preventiva no controle da Covid-19”, diz. Ele se refere a testagem, rastreamento de contatos e isolamento dos infectados, além do uso disseminado de máscaras. Tudo promovido exaustivamente em campanhas de comunicação do governo. “Desde o primeiro momento, teve um sentimento nacional de que está todo mundo unido, lutando contra um inimigo comum”, conta André. Resultado: mesmo sem grandes recursos e com vacinação ainda incipiente, o país do sudeste asiático registra 0,04 mortes pela doença a cada 100 mil habitantes. Enquanto nós, 181,7. Neste episódio, Renata Lo Prete conversa também com Fátima Marinho, epidemiologista da Vital Strategies, organização que atua no enfrentamento do novo coronavírus em 40 países. Ela explica o que precisamos extrair da experiência de países como o Vietnã para colocar o contágio sob algum controle enquanto a imunização não ganha ampla escala: “Investir tudo o que pudermos em rastreamento de casos e contatos, ter uma coordenação nacional e incluir nesse processo a atenção primária do SUS”. Fátima recomenda ainda abandonar a ilusão de que a onda atual será a última: “A tendência é repetir o cenário, e pra pior”.

A resposta do mundo à crise climática

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Discursando na reunião virtual convocada pelo presidente americano, chefes de Estado e de governo se comprometeram com esforços para frear o avanço do aquecimento global. Começando pelo próprio Joe Biden, que anunciou a ambiciosa meta de reduzir à metade as emissões dos Estados Unidos de gases do efeito estufa até 2030. "Isso vindo de um país ainda muito dependente de combustíveis fósseis é absolutamente inédito”, explica Ricardo Abramovay, professor sênior do programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP. “E envolve uma profunda transformação econômica e social", completa. Entrevistado por Renata Lo Prete neste episódio, Abramovay analisa os principais temas que atravessam a cúpula: do objetivo de neutralizar as emissões à “economia do cuidado”, da proposta de taxar carbono a medidas mais radicais para conter a escalada da temperatura do planeta. “A transformação é de uma magnitude que o mundo não vê desde a revolução industrial”. Enquanto isso, “o governo brasileiro está com o olho no retrovisor", diz. Quando seria necessário ficar atento “à rota fascinante que está se abrindo em razão da urgência climática”.

O Brasil na Cúpula do Clima

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"O mundo busca uma nova fotografia, e o Brasil tem que estar nela". Assim a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira resume a importância do encontro virtual de líderes que começa nesta quinta-feira. Entrevistada por Renata Lo Prete neste episódio, a bióloga de formação, ex-servidora do Ibama, alerta que combater o desmatamento da Amazônia é apenas parte do problema, “a agenda do passado”, que já deveríamos ter superado. Para a do futuro, “o governo precisará construir um alicerce que permita ao mundo voltar a olhar para o Brasil". Participa também Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. É ele quem detalha o passivo de 28 meses que assombra o discurso de Jair Bolsonaro no evento. "O governo barbarizou o meio ambiente”, diz Astrini, lembrando da “boiada” do ministro Ricardo Salles. “Nenhum país vai querer se arriscar colocando dinheiro na mão de um governo que claramente trabalha contra a floresta".

A desumanidade da intubação sem kit

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Depois do esgotamento de leitos e do desabastecimento de oxigênio, a mais recente manifestação de colapso do sistema de saúde é a escassez de medicamentos para doentes graves de Covid-19. Cinco Estados zeraram seus estoques no fim de semana, e outros se aproximam desse ponto - São Paulo tem o suficiente para mais quatro dias. Neste episódio, a médica intensivista Lara Kretzer, que coordena uma força-tarefa para alocar recursos escassos, descreve a mecânica da intubação e o papel de cada um dos remédios usados no procedimento. Sem eles, “a gente não consegue ventilar o paciente de maneira apropriada”, o que compromete suas chances. E do ponto de vista ético e humanitário? “É pior ainda”, afirma. A importação desses medicamentos por empresas privadas, para destinar ao SUS, é mais do que bem-vinda. Mas a atitude do governo federal não ajuda e, no estágio da pandemia em que está o Brasil, qualquer medida de alívio para quem está hospitalizado só se sustenta se houver esforço para reduzir o contágio - e com ele as internações. É o que explica Walter Cintra, professor da pós-graduação em administração hospitalar da FGV. “Chegamos aonde chegamos porque não tomamos as medidas preventivas, que são as melhores medidas”, diz.

CPI da Covid: um guia de perguntas

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Por que o governo Bolsonaro esnobou ofertas de vacina no 2º semestre de 2020? Quanto dinheiro público foi usado na compra e na produção, pelo Exército, de um remédio que não funciona contra o novo coronavírus e até mortes já provocou? Onde foi parar o plano de testagem que Nelson Teich disse ter deixado pronto? Que sequência de ações e omissões matou doentes por falta de oxigênio em Manaus? Que fim levaram os medicamentos para intubação requisitados de laboratórios pelo Ministério da Saúde? Vem aí a Comissão Parlamentar de Inquérito que poderá iluminar essas e muitas outras questões, apontando responsabilidades pelo maior desastre sanitário da história do Brasil, que já conta mais de 373 mil vítimas. Às vésperas de sua instalação no Senado, Renata Lo Prete conversa com Carlos Andreazza, âncora da CBN e colunista do jornal O Globo. Ele lista convocados que não poderão faltar e passa em revista os temas, mostrando quais são os mais explosivos para o presidente e o governo como um todo.

Ricardo Salles, o novo Ernesto Araújo

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No momento em que Jair Bolsonaro tenta convencer Joe Biden e líderes europeus de que tem compromisso com a preservação da Amazônia, o ministro do Meio Ambiente está no centro de uma crise deflagrada com a maior apreensão de madeira da história do país, feita pela Polícia Federal na divisa entre Amazonas e Pará no final do ano passado. Ricardo Salles entrou na história mais recentemente, ao visitar a região e se colocar ao lado dos madeireiros. “A PF sustenta que essa operação detectou uma organização criminosa”, relata Fabiano Villela, repórter da TV Liberal (filiada à Globo no Pará) e um dos entrevistados neste episódio. É ele quem explica os expedientes mais usados na região para “esquentar” madeira ilegal. Renata Lo Prete conversa também com Julia Duailibi, apresentadora e comentarista da GloboNews. Ela analisa o impasse criado com a decisão do superintendente local da PF, Alexandre Saraiva, de apresentar ao Supremo notícia-crime contra Salles - movimento que custou o cargo ao delegado. E fala também de como, mais e mais, o titular do Meio Ambiente lembra o chanceler dispensado em março. Assim como Ernesto Araújo, Salles já esgotou a paciência de empresários e parlamentares aliados do Planalto - além de ser entrave a qualquer melhora nas relações externas do governo Bolsonaro. “Ele se segura porque é quadro remanescente da chamada ala ideológica, mas há grande pressão no Congresso para derrubá-lo”, diz Julia.

A importância da 2ª dose

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"Duração maior da proteção", resume o médico Marco Aurélio Sáfadi. Em conversa com Renata Lo Prete, ele explica o imperativo de tomar o reforço, no caso das vacinas contra a Covid-19 disponíveis no Brasil (a Coronavac e a do consórcio Oxford-AstraZeneca). Presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Sáfadi ressalta que só completando o processo de cada imunizado (e aumentando muito o número geral de doses aplicadas por dia) conseguiremos controlar o contágio. Segundo o Ministério da Saúde, 1,5 milhão de pessoas que receberam a primeira dose não retornaram para a segunda. Ainda que secretarias estaduais e municipais apontem exagero nesse dado, o problema existe, mas pode ser sanado com medidas práticas e melhor comunicação. “Se cada comunidade faz uma coisa diferente, sem coordenação nacional, dificulta. A população fica confusa", analisa Carla Domingues, que chefiou o Programa Nacional de Imunizações entre 2011 e 2019 e também participa deste episódio. Para ela, ainda há tempo de colocar os retardatários de volta no bonde da vacinação, com uma grande campanha de conscientização, além de mutirões e providências locais para localizar os faltosos. Estes, por sua vez, não devem desistir, orienta Sáfadi. Seja qual for o atraso, “basta ir tomar a segunda dose para que ela ofereça a proteção necessária".

A multiplicação das armas

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À margem do Legislativo, por meio de dezenas de decretos e portarias, o governo Bolsonaro vem executando sua principal política: a de facilitação ampla do acesso a armas de fogo, tal como afirmado pelo presidente na famosa reunião ministerial de um ano atrás. Em 2020, o número de registros de posse por colecionadores, atiradores e caçadores mais do que dobrou. E o crime organizado não encontrou dificuldade para se apoderar de parte expressiva desse arsenal. Na véspera da entrada em vigor de quatro decretos, ainda mais permissivos, a ministra do Supremo Rosa Weber suspendeu vários de seus artigos, e o caso agora será examinado pelo plenário do tribunal. Neste episódio, o jornalista Marcio Falcão, da TV Globo em Brasília, analisa as perspectivas para esse julgamento e lembra que não é inédito um ministro do STF conceder liminar na contramão da escalada armamentista promovida pelo atual governo - Edson Fachin já fez o mesmo. Renata Lo Prete conversa também com o advogado Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz. Ele chama a atenção para o tipo de arma que vem sendo liberada: “Algumas são mais potentes que as da polícia”. E estabelece a conexão: “A maioria esmagadora das armas apreendidas com criminosos é nacional é foi comercializada antes do desvio para o crime”.

Bolsonaro no redemoinho

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“Quando o presidente viu que a bomba das mortes e de todo esse desastre ia cair em seu colo, decidiu jogar no ventilador e espalhá-la”, diz Maria Cristina Fernandes, colunista do jornal Valor Econômico e comentarista da rádio CBN. Neste episódio ela analisa, em conversa com Renata Lo Prete, de que maneira o conteúdo do telefonema entre Bolsonaro e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) se encaixa na tática presidencial de empastelar a CPI da Covid, se não for possível evitá-la. Vazado pelo senador, o diálogo mostra tentativa explícita de interferir nos poderes Legislativo e Judiciário para tirar as ações e omissões do governo federal na pandemia do foco, diluindo as investigações por Estados e municípios. Como tal comportamento pode configurar crime de responsabilidade, muita gente não entendeu quando Kajuru revelou que divulgou a conversa autorizado por Bolsonaro - que no dia seguinte se declarou “traído”. Maria Cristina explica também como o Orçamento aprovado pelo Congresso entra nesse cenário turbulento. Para se proteger da CPI, o presidente precisará dos parlamentares, que, neste momento, cobram dele que preserve a generosa parcela que lhes coube na peça de 2021. “Se Bolsonaro sancionar sem vetos, incorrerá em outro crime de responsabilidade. Se vetar, pode azedar a relação e levar a Câmara a engrossar o coro por impeachment”.

O golpe mortal no Censo

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A pandemia já atrasou, em um ano, a única radiografia completa da população brasileira, feita a cada década, desde 1940. E ainda impõe dificuldades sanitárias à realização dessa ampla e detalhada pesquisa do IBGE. Mas o que realmente ameaça sua sobrevivência é a asfixia de recursos. Com custo estimado, ainda em 2019, de R$ 3,4 bilhões, o Censo Demográfico foi sendo lipoaspirado pelo Executivo e pelo Legislativo até ficar, no recém-aprovado Orçamento de 2021, com minguados R$ 71,7 milhões, valor que inviabiliza o levantamento. Um falso barato que sairá caríssimo, alerta o economista Sérgio Besserman, presidente do IBGE entre 1999 e 2003, hoje integrante da Comissão Consultiva do Censo. Entrevistado por Renata Lo Prete neste episódio, ele começa por lembrar do básico: “Além de vital para a elaboração e a eficiência de qualquer política pública, o Censo serve de base para outras pesquisas. Sem ele, vai se eliminando a racionalidade”. Para além desse aspecto, estamos falando de um direito da cidadania, em especial diante da devastação do último ano: “A sociedade brasileira precisa saber o que aconteceu com as populações mais vulneráveis e com o sistema de saúde, balisada pelas informações censitárias”. Participa também Lucianne Carneiro, repórter do jornal Valor Econômico. Ela trata da demissão da presidente do IBGE e do cancelamento do concurso que recrutaria mão-de-obra para o Censo, além de pesar argumentos favoráveis e contrários à sua realização enquanto o país estiver pouco vacinado e com o contágio nas alturas.

Henry: o horror que ninguém viu

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Depois de um mês de investigações, a polícia do Rio de Janeiro reuniu indícios suficientes para mandar prender o padrasto e a mãe do menino de 4 anos agredido até a morte no apartamento onde vivia o casal, na Barra da Tijuca. “A perícia técnica foi fundamental”, avalia o repórter da Globo Carlos de Lannoy, que acompanha o caso desde o início. É ele quem detalha, neste episódio, o histórico de violência contra crianças do vereador Dr. Jairinho e as evidências de que Monique Medeiros tinha pleno conhecimento dos maus tratos sofridos pelo filho. Eles agora são investigados por homicídio duplamente qualificado e tortura. Lannoy explica também a rede de conexões políticas que por muito tempo protegeu Jairinho -no quinto mandato, ele é influente na Câmara Municipal, onde integra o Conselho de Ética. Renata Lo Prete entrevista ainda o advogado Ariel de Castro Alves, do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. “Trabalho há quase 30 anos na área, e nunca vi um caso como esse”, afirma.

A privatização da vacina

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“Em português claro, é uma maneira de furar a fila”. Assim o médico e ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão traduz a decisão da Câmara dos Deputados de liberar a compra de vacinas contra a Covid-19 por empresas privadas sem necessidade de repassar todas as doses ao SUS, executor do Plano Nacional de Imunização. E de permitir que essa aplicação paralela aconteça antes mesmo de o PNI alcançar todos os grupos prioritários. Entrevistado neste episódio, Temporão explica de que maneira a fila dupla rompe a lógica sanitária de imunizar em etapas, considerando o grau de risco de quem vai receber a dose. E aponta ainda a incongruência de favorecer funcionários de empresas, aleatoriamente, num país em que o trabalho informal predomina e o número de desempregados é altíssimo. Renata Lo Prete ouve também a empresária Luiza Trajano, que está à frente do Unidos pela Vacina, movimento de apoio atuando em quase todos os municípios brasileiros. Há meses mergulhada nessa questão, ela aponta, em primeiro lugar, a ociosidade do debate: “O problema é que não tem vacina sobrando para comprar”. Luiza se refere ao superaquecimento da demanda global e à consequente decisão, por parte dos principais fabricantes, de por enquanto vender somente para governos. Se alguma empresa conseguir, “ótimo”, ela diz. E completa: “tem que ir para o SUS”.

A fábula do tratamento precoce

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Durante meses, enquanto outros países se concentravam na aquisição antecipada de vacinas, o governo brasileiro investiu pesadamente em comprar e distribuir cloroquina, um antigo medicamento até hoje sem eficácia demonstrada contra o novo coronavírus. A pregação do presidente Bolsonaro encontrou eco em parte da classe médica, que receitou sem pudor nem critério esse e outros itens do chamado “kit covid”. As vendas dispararam, e agora se multiplicam também as notificações à Anvisa de complicações sofridas por pacientes. Neste episódio, Ricardo Melo, repórter do Fantástico em Minas Gerais, relata alguns desses casos - há quem tenha ido parar na fila do transplante de fígado. “Tem gente usando como profilaxia, acha que vai evitar a doença”, conta. Ele também mapeia a rede de fake news que promove o consumo do kit e ações que já tramitam na Justiça para responsabilizar agentes públicos. Renata Lo Prete entrevista também o cardiologista Bruno Caramelli, professor da USP e diretor do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas. Ele é o autor de uma representação para que o Ministério Público investigue o papel do Conselho Federal de Medicina nessa história. “O CFM não só não condena como aprova”, diz. Caramelli questiona ainda a ideia de que a “autonomia médica” impediria a atuação do poder público, como sugere o novo ministro da Saúde. “Prescrever medicamento para o qual não existe evidência científica não é autonomia, é erro”.

A guerra em torno do Orçamento

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Foram sete meses de tramitação, três dos quais já no ano de vigência. E ao final saiu uma peça de ficção, no entender quase unânime dos especialistas. Neste episódio, Renata Lo Prete conversa com Cristiano Romero, diretor-adjunto, chefe da Sucursal de Brasília e colunista do Valor Econômico, para entender as despesas subestimadas, os cortes de gastos obrigatórios e o milagre da multiplicação das emendas parlamentares. Uma disputa que tem o ministro da Economia de um lado, aliados do governo no Congresso de outro, e o presidente Jair Bolsonaro com um pé em cada canoa - e os dois olhos mirando a eleição de 2022. “Paulo Guedes já esteve para sair do governo inúmeras vezes”, lembra Romero. Se Bolsonaro não vetar os desarranjos da peça aprovada, “não haverá momento melhor para o ministro sair do que agora”. O jornalista explica que irregularidades tão flagrantes “podem até criar motivo técnico para impeachment”, como ocorreu com Dilma Rousseff, em 2016. E avalia que a eventual decretação de uma nova calamidade pública, para escapar das exigências fiscais, será uma grande derrota para Guedes.

Diplomacia sob Bolsonaro: terra arrasada

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Os objetivos perenes de toda política externa cabem num enunciado simples, ensina o embaixador Marcos Azambuja, ex-secretário geral do Itamaraty e conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais: “Se dar bem com os vizinhos, se dar bem com os fregueses e manter relação de confiança com o mundo”. Por qualquer um desses critérios, fracassou miseravelmente a gestão do chanceler Ernesto Araújo, que no entanto só chegou ao fim, após dois anos e três meses, porque empresários e o Congresso perderam a paciência com um fiasco em específico, o das negociações para obter vacinas contra a Covid-19. Em entrevista a Renata Lo Prete, Azambuja passa em revista diferentes aspectos do que chama de “erro sistêmico”, que considera menos “ideológico” do que resultado de “desatinos sem pé nem cabeça”. E alerta: a questão ambiental, principal fonte de descrédito do país no exterior, está longe de ser atacada, que dirá resolvida. Embora reconheça que o substituto de Araújo, Carlos Alberto França, foi escolhido sobretudo por ter caído nas graças da família presidencial, Azambuja vê chance de alguma correção de rumo. “A realidade dos fatos é irresistível”, diz. “No fim, é o que ganha”.

Colapso até para enterrar os mortos

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A cada minuto dos últimos 7 dias, duas pessoas morreram de Covid no Brasil. Um ritmo do qual não dá conta nem o sistema funerário da maior cidade do país, dotada de uma rede de 22 cemitérios públicos. “Além de espaço, falta também estrutura física e material e até carros para levar os corpos”, relata o repórter da Globo César Galvão. Na conversa com Renata Lo Prete, ele conta como foi seu trabalho de acompanhar sepultamentos noturnos em São Paulo. E compartilha histórias como a de “um filho que disse que não conseguiu prestar uma última homenagem à mãe e ainda teve que enterrá-la no escuro”. Participa ainda deste episódio Lourival Panhozzi, presidente da Associação de Empresas e Diretores do Setor Funerário, que procura dimensionar a tragédia: “O número de mortes que estamos vendo só seria alcançado no Brasil, dentro da normalidade, em 2045”. O impacto, diz, atinge também quem trabalha no setor: “Sou funerário há 45 anos. Sempre vi famílias chorando nos velórios. Agora eu entro no velório e o que vejo é a minha equipe chorando”.

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